quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Anjo delirante (poema de sete faces)

Quando nasci
Um anjo delirante
Esclamou alegre, sorridente
Roberto, por que não cantas?
O dom que tens é poesia

Vim do céu sou teu anjo
O que quero de ti é alegria
Canta roberto, canta
Êita, não tem hora nem tem dia

Minha noite ela fazia
Então canta roberto, canta
Um anjo louco e delirante

Amigo meu não era fantasia
Me disse – teu dom é poesia e então
O que estou esperando é o verso ritmado
Roberto, porque não cantas?

Roberto Weber de M. Milla

Doce Maíra

Minha doce Maíra,
Por que porta saíra?
Soturno meu coração reclama
O direito de retornar ao peito
D’onde tanto afã por ti
Ao tocar-lhe tremeu-se de medo.

Minha doce Maíra,
Por que porta saíra?
Reservo a mim o desejo
Fruto de um calor tirano
Que de amar fez do amor profano
Fonte infinita de sossego.

Minha doce Maíra,
Por que porta saíra?
Quando laços de cristais aprisionam
O vermelho das chamas do poente
Que nos une e queima com porfia
Um coração amigo ardia...

Minha doce Maíra,
Por que porta saíra?
E sei que de te amar não sou prudente
Pois sofro só em manso lago
Que por mais que chova, é secura
Sonhando com tua boca nua e pura.
Por que porta saíra?
Minha doce Maíra...

Roberto Weber de M. Milla

Canção do morto

Estou com sono...
Tudo o que quero é dormir
Dessa vida triste vou sumir
Para acordar em outra só no outono.

Quem me dera não ter mais que lamentar
A labuta de esses dias, descansar
Quem me dera ser formoso atleta
Coroar minha sina em repouso
Caminhar com as pessoas em gozo
Quem me dera não ser um “tão simples” poeta...

Pois do que vive a poesia?
Senão da imensa dor e da agonia
Por ninguém entender o que escrevo
Sofro na prisão de um quarto escuro
Onde cada pensamento doce e puro
Perde-se nessas paredes sem enlevo.

Tudo o que resta é um pensamento torto
Dessa loucura que se chama quimera
E insiste haver primavera
Onde tudo que existe é um poeta morto...

Roberto Weber de M. Milla

Coração de porcelana

Caminha a menina alegre pela rua
Exibindo seu belo vestido e botas brancas
Desprendidos e airosos seus cabelos são levados
Pelo vento que suavemente toca-lhe a pele
Que rosada em olhos azuis e fios dourados
Exala a fragrância de uma flor libertina
Que desfila nesse mundo de perigos e tasca
A dançar por entre cravos “mansos”
E dos jardins a observam com espanto
Dos galhos tremidos ficam perguntando
Como pode haver tal alegria nessa menina?
Então da indagação vem o desespero
Do desespero reinou a inveja
De uma flor que deles cuidava com tanto zelo
Só restou dela o apelo
E o vestido branco pega e rasga
Corta-lhe as raízes verdes e florentes
Aquela flor tão bela e luzente
Virou um cravo deprimente
Que nunca será florescente
Enquanto o seu jardim for imundo e sua vida um drama
Tudo que lhe resta é um coração de porcelana...

Vida prostituta

Sou um vagabundo perdido
Fui jogado ao mundo prostituto sem opinião
Onde quem pensa chamam de mendigo
Somos quadrados sem saber por que razão
Devemos seguir com os outros sem despeito
Aos ídolos que estampamos no peito.

E aí daquele que sair da forma
É lançado ao rio sem demora
Não questionar essa é a norma, pois
Mesmo o destemido se apavora
Com a vastidão das águas misteriosas
Que lhe abrem a mente nessas vidas desastrosas.

Mas porque sair dessa roda?
Se somos todos programados iguais
Pelos nossos ídolos e protetores geniais
Para que possam distrair com pão e circo
Os vagabundos quadrados que dizem – ta eu fico!
A desculpa de todos é a moda.

Sou um vagabundo perdido e sem gume
Com uma caneta, um papel e uma corda
A caneta escreve no papel e a corda faz volume...

Roberto Weber de M. Milla

Relatório de um estudante

Pega, pega, pega
Texto, texto, texto
Lê, lê, lê
Para não esquecer

Escreve, escreve, escreve
Estuda, estuda, estuda
Chuta, chuta, chuta
Quem te aborrecer

Pega, pega, pega
Outro, outro, outro
Texto, texto, texto
Pára!
Bebe, bebe, bebe
Água, água, água
Para poder relaxar

Volta, volta, volta
Faça, faça, faça
Resumo, resumo, resumo
Passa, passa, passa
Pra outro tudo
Não!
Ensina, ensina, ensina
Aprende, aprende, aprende
Pra não se cansar

Reza, reza, reza
Pede, pede, pede
Professor quero passar

Pensa, pensa, pensa
Dorme, dorme, dorme
Epa!
Chega de sonhar

Assim, assim, assim
Estudo, estudo, estudo
Sou, sou, sou
Um estudante.

Roberto Weber de M. Milla

domingo, 23 de dezembro de 2007

Moça da Noite

Oh! Como insistes minha noite velha...
Não me cante mais o coração com tanto apelo
Noite moça dos desejos és meu zelo
Teu soprano me adora mais que eu valha...

Tu me mostras o conteúdo atrás do véu
Busco a fuga ou um santo que me ilumine
Agora tardo de tentação já cometi o crime
Estou na tribuna, minha noite sou teu réu.

Já nos julgamos pela madrugada
Sabes de mim o quanto sou culpado
De não resistir a moça donzela e galharda.

Ouço a ópera de minha hora devotado
E a saudade me habita na alvorada
Que prazer! Que desejo! Oh! Moça da noite estou apaixonado...

Roberto Weber de M. Milla

Amanhã

Eis que estremeço em minha aresta
Sem hosanas que ecoem em minha mente
E me encorajem nessa luta permanente
Ou me mostrem o caminho dessa floresta.

E mesmo que loas me ataquem com porfia
Sei que farei a epopéia de nossas vidas
Que de todas as lembranças nossas tidas
Não haverá fogo que me alivie a agonia.

Quero ter-te como se fosse minha a tirania
Perder-me em cada espaço do teu corpo
Sendo a chama ardente e fria

Sendo o teu caminho mais reto e torto
Onde o hoje mais intenso faria
Do nosso prazer o amanhã morto...

Roberto Weber de M. Milla

Amor intenso

Eu te amo meu amor...
Com frescura e com desejo amante...
Sendo um homem ou um bicho delirante
Amo-te com um amor intenso e salvador.

Como posso amar tanto alguém?
Assim eterno em cada vão momento
Sublime no pesar e no contentamento
Palavras não expressam, estão muito aquém!

E na saudade mesmo tão distante
Meu coração enfim vibra de contente
Quando no sorriso teu fico pensante.

Eu te amo assim mesmo de repente
Sem vergonha eu peco a cada instante
De gula por te amar tão intensamente.

Roberto Weber de M. Milla

Pranto desatado

Enfim desperta o arrulho
E com ele um brilho avermelhado
Que me arranca o véu e oculta o barulho
De um coração há muito machucado.

E o orvalho que esfria minha alma
Disfarça o pranto ardente e desatado
Que rasga o rosto sem pesar e acelerado
Explode ao chão para encontrar a calma.

Mas não sou meu pranto
Sua bravura não é mais que amiúde
E mesmo que doa e dói um tanto.

Da minha vida só tem eu quem cuide
Por isso fico triste esperando
Que o fim do sofrimento seja o começo amando...

Roberto Weber de M. Milla

Soneto de reflexão

Passei a refletir sobre o que faço
Temo que esse seja um erro e moer
Cada espaço que minha alma entrega a doer
Sei que não quero dor de dor, eu passo!

Mas se o que faço eu faço e não desfaço
Porque parece sem sentido um sentido válido?
Da palavra com palavra faz-se o laço
Da escrita que é escrita faz-se o lido.

Quê mais me falta que o quê?
Se escrever faz-me sentir aquilo que sinto
Quando um verso cria um verso em harmonia.

Não preciso de uma regra ou porquê
Só vivo a palavra que nem invento nem minto
Pois a mentira inexiste onde existe poesia...

Roberto Weber de M. Milla

Soneto da existência

Preciso mostrar ao mundo que existo
Sem talento ou riqueza que me sirvam
De refúgios e inspirações ou digam
Sossega minha alma, eu te assisto.

Não sei se um dia serei grande
Escrevendo versos loucos, sendo maluco
Sinto o tempo passar rápido e embora eu ande
Um dia sorrirei velho e caduco.

Cansei de ficar só e taciturno
Vagueando na vastidão dessa floresta
Que engole os perdidos e encaminha os errantes.

Dia e noite sigo com eles soturno
E no meu coração não encontro uma fresta
Que me alivie os prantos de agora ou de antes.

Roberto Weber de M. Milla

Soneto da eternidade

Do nada fez-se o amor
Dos olhos criou-se o desejo
Do apalpo fez-se o calor
Dos abraços criou-se o beijo

Do nada fez-se a loucura
Da cama criou-se o prazer
Dos movimentos fez-se a pura
Dos lençóis criou-se o bem-querer

Do nada fez-se a paixão
Das mãos unidas criou-se a vontade
Dos carinhos fez-se a razão

Do sonho criou-se a vaidade
Do momento fez-se a sensação
Do nada criou-se a eternidade..

Roberto Weber de M. Milla

Instante

Tanto doei de minha dor
Que nas areias do tempo perdido estou
Atrás dos braços de um amor
Que num instante cada instante me levou.

Peregrino sigo no deserto
Ao sol que arde meu tormento
Posto que aos poucos vou chegando perto
De virar o pó levado pelo vento.

E no último suspiro que me descia
Lembrava quão belo fora nosso instante
Que de cada instante fez e faria,

Meu forte nessa jornada errante
Onde passo a passo tudo o que queria
Era ser-te o todo a todo instante.

Roberto Weber de M. Milla

Sra. Luana

Lua no nome, Luana na cara
Isso é ser lua e mulher juntamente
Luana, lua intensa luzente
No que, senão em ti se transformara

Quem vira lua tão presente
Que aos céus não se ajoelhara
Quem vira brilho ascendente
Que um desejo logo não gritara

Mulher que inspira a alegria
Lua que ilumina meus altares
Parte de minha vida, meus pesares

E sei que as estrelas por ti choram e clama
Posto que na lua e mulher existe a chama
De quem vive a terra em harmonia

Roberto Weber de M. Milla

De um a cinco

Um, dois, três, quatro, cinco
Esses são os dedos
De uma mão que deseja com afinco
Segurar a tua contra o peito

Um e dois
Esses são os braços
Carentes de abraços
E do calor que vem depois

Um, dois, três, quatro, cinco
Esses são os dias
Que de úteis passam a vinho tinto

E embriagam um corpo que queria
A vida fosse como escrevo, não como pinto
Um, dois, três, quatro, cinco

Roberto Weber de M. Milla

Amigo Anakan

Quem é meu amigo Anakan?
Homem das caras que pensam, age.
Matuto amarelo branco veio do acre
Esse é meu amigo Anakan.

Mesmo dos erros e besteira
Ao seu lado sei que estarei
E quando a mão umedecera
Meu amigo será lá, esperarei.

Sei que porvir ainda tem tudo
De uma vida a ser edificada
E dos louros dessa coroa

Que por ser tão bela e tão galharda
A árvore sempre dará o fruto
E debaixo dela estaremos rindo a toa.

Roberto Weber de M. Milla

Soneto de outrora

Acordo n`alva doce dia
Aos olhos prantos por aurora
Mas sei que o que sinto é utopia
Quando no moderno, vivo outrora.

Oculto coração em verso desatado
Sinto o brio de um fogo que disfarça
Mas ao desponto me sinto alquebrado
Pois é grande, sentimento que não passa.

Quando de frente à tão bela, a mais luzia
Fico perdido em meio a tanto encanto
E ao cismar no primor dessa magia.

Ouço suave voz, doce como o canto.
Como o mar que em águas maravilha,
És o amor, a que clamo tanto.

Roberto Weber de M. Milla

Soneto do nauta

Vivo na força desse sentimento tão casto
Que me torna homem, menino, fraco e forte,
Me deixando nauta perdido em mar recato
Que é tão vasto, bote!

Quando homem, me sinto um vazio errante
Fico fraco diante esse lume pertinaz
Que no menino se torna presente amante
Amante que transforma o forte no capaz

Capaz de não saber mais o que é triste
Pois vive, na risada desse sentimento que insiste
Ao despontar na alegria, à formosura

Aos olhos o mar imarcescível
Engolindo o mundo numa força impossível
Que existe no beijo doce, à gostosura.

Roberto Weber de M. Milla